Estruturas metálicas foram instaladas na área da Reserva Biológica Mata Paludosa, em Itati
Moradores da Serra que aproveitarem o feriadão de finados para se deslocar ao Litoral Norte encontrarão um cenário diferente na Rota do Sol. A rodovia recebeu cinco travessias aéreas para anfíbios instaladas junto à Reserva Biológica Mata Paludosa, em Itati. A área é habitat de espécies em risco de extinção, algumas existentes apenas na região. A fixação das estruturas metálicas revestidas por tela teve início na última terça-feira (26) e terminou no dia seguinte.
A iniciativa é inédita no Brasil para a travessia dessas espécies de animais e mesmo em outros países não foram encontradas estruturas semelhantes. Tanto que o desenho das passarelas precisou ser desenvolvido pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) em parceria com as empresas Invicta Engenharia e Biolaw Consultoria Ambiental, contratadas para dar suporte no desenvolvimento de ações de preservação da fauna.
— Se espera também que beneficiem outros tipos de fauna. Temos poucas rodovias com travessias aéreas. Em algumas, há para bugios, mas são estruturas com cordas, bem mais simples. Instaladas pelo Daer, temos na RS-471 (que liga Soledade, na região do Planalto, a Canguçu, no sul do Estado) — destaca Josani Carbonera, engenheira florestal e superintendente de Meio Ambiente do Daer.
Segundo Josani, técnicos envolvidos no estudo estimam que as estruturas e outros dispositivos evitem cerca de 7,4 mil atropelamentos de anfíbios nos seis meses que compreendem a primavera e o verão, quando os animais estão em maior atividade, todos os anos. Répteis e mamíferos também devem ser beneficiados pelas travessias. Para as aves, também vítimas de atropelamentos eventualmente, a avaliação é de que o impacto possa ser menor.
As estimativas se baseiam em estudos realizados entre o fim de 2017 e o início de 2018, quando biólogos acompanharam detalhadamente o comportamento das espécies e identificaram os riscos na travessia da rodovia. Por conta disso, não há como estimar a quantidade de vidas preservadas nos meses de outono e inverno, quando a circulação de animais é menor.
Desde o fim do ano passado, a região de Mata Paludosa conta com seis novas passagens subterrâneas, que se somaram às três existentes desde a construção da rodovia. No início do ano, também foi implantado um cercamento nas laterais para direcionar os animais para as passagens. Essas barreiras também devem auxiliar na condução dos animais para as travessias aéreas, mas novas ações e acabamentos, como o plantio de trepadeiras na base das passarelas também servirão de guia para as espécies. Na medida em que a vegetação do entorno crescer, o uso tende a aumentar.
— A consultoria identificou espécies arborícolas (que vivem nas copas das árvores), por isso as passagens aéreas, e as inferiores são para os animais terrestres. Elas (passarelas) foram instaladas nos pontos onde o estudo identificou que existem mais atropelamentos. Como os animais não conseguiam pular de uma árvore à outra para atravessar, caíam sobre a rodovia e eram atropelados — explica Josani.
O estudo ambiental na Rota do Sol foi concluído no segundo semestre de 2018 e o desenvolvimento do projeto das estruturas aéreas ocorreu ao longo de 2019. Entre 2020 e 2021 foram captados os recursos e realizados aditivos contratuais para a implantação. A dificuldade de obtenção e o encarecimento de matéria prima também atrasaram a entrega das estruturas. Cada peça teve custo aproximado de R$ 140 mil, o que totaliza R$ 700 mil nas travessias aéreas. Contudo, todo o complexo, incluindo as passagens subterrâneas e o cercamento com material importado exigiu aporte de R$ 2 milhões, incluindo a aquisição e a logística de implantação.
A próxima etapa do projeto será um novo monitoramento das espécies para verificar como se dará o uso de todo o complexo de travessia e se eventuais ajustes serão necessários. O trabalho também precisa ocorrer nos meses de primavera e verão, mas o cronograma ainda não está definido.
Exigência do Ibama
A implantação de dispositivos para a preservação da fauna da Mata Paludosa é uma exigência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), responsável pelo licenciamento ambiental da Rota do Sol entre a localidade de Tainhas, em São Francisco de Paula, e o entroncamento com a BR-101, em Terra de Areia. É por isso também que a região conta com uma lombada eletrônica com limite de 40 km/h.
Segundo Josani Carbonera, a importância ambiental da reserva biológica era desconhecida até a realização dos estudos ambientais para a construção da rodovia. A partir disso, ela foi formalizada como área de preservação.
— Ela já foi implantada em dois segmentos, por isso já tinha passagens subterrâneas na Rota do Sol — lembra.
Entre as espécies em risco de extinção identificadas na Mata Paludosa, estão a perereca-castanhola (Itapotihyla langsdorffii), perereca-risadinha (Ololygon rizibilis) e perereca-macaca (Phyllomedusa distincta). Esta última existe no Brasil apenas em regiões de Mata Atlântica, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
Fiscalização permanente Outra exigência do órgão federal é a implantação de pelotões do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) para a fiscalização permanente da Rota do Sol. Um dos principais objetivos é garantir o rápido atendimento a acidentes, especialmente envolvendo carga tóxica, já que praticamente toda a rodovia passa por áreas de preservação ambiental. Um dos pelotões ficará no km 251,7 da RS-453, na localidade de Tainhas, enquanto o outro ficará no km 32,8 da RS-486, em Terra de Areia. Os projetos já estão prontos e com as obras licitadas. Segundo Josani Carbonera, o contrato para a implantação dos acessos e terraplenagem está em fase de assinatura. A construção dos prédios em si será realizada por outra empresa e depende do término da primeira fase. O investimento foi incluído no Plano de Obras do Programa Avançar, pacote de investimento em rodovias anunciado em junho pelo governo do Estado.
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