Foi um engenheiro civil e político brasileiro. Considerado um líder da esquerda e um político nacionalista, foi governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, sendo o único político eleito pelo povo para governar dois estados diferentes em toda a história do Brasil.
Brizola nasceu no Noroeste gaúcho. Viveu seus primeiros anos no interior do estado, mudando-se para Porto Alegre em 1936. Lá, deu prosseguimento aos seus estudos e trabalhou como engraxate, graxeiro, ascensorista e servidor público. Ingressou no curso de engenharia civil na Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1945, graduando-se em 1949. Enquanto ainda estudava na UFRGS, ingressou na política, ficando responsável por organizar a ala jovem do Partido Trabalhista Brasileiro. Em um evento político, conheceu Neusa Goulart, irmã do também político João Goulart, com a qual se casou em 1950 e teve três filhos.
Em 1947, Brizola foi eleito deputado estadual pelo PTB. Tornou-se um político em ascensão no estado: em 1954, foi eleito deputado federal, com uma votação recorde; dois anos depois, elegeu-se prefeito de Porto Alegre; e, em 1958, governador do Rio Grande do Sul. Como governador, tornou-se proeminente por suas políticas sociais e por promover a Campanha da Legalidade, em defesa da democracia e da posse de Goulart como presidente. Em 1962, transferiu seu domicílio eleitoral para a Guanabara, estado pelo qual elegeu-se deputado federal. Durante o governo de Goulart, este e Brizola mantiveram uma relação tumultuada, mas uniram-se novamente antes do golpe militar de 1964. Depois que suas propostas de resistência não foram bem-sucedidas, Brizola exilou-se no Uruguai.
Voltou ao Brasil em 1979, depois de um exílio de quinze anos no Uruguai, nos Estados Unidos e em Portugal. No mesmo ano, fundou e presidiu o Partido Democrático Trabalhista, um partido social-democrata e populista. Em 1982, foi eleito governador do Rio de Janeiro, iniciando um programa de construção dos Centros Integrados de Educação Pública. Na eleição presidencial de 1989, por pouco não foi para o segundo turno. Um ano depois, voltou a governar o Rio de Janeiro, sendo eleito no primeiro turno. A partir daí, não logrou êxito em nenhuma das quatro eleições que disputou, de vice-presidente de Luis Inácio Lula da Silva em 1998 a senador pelo Rio de Janeiro em 2002. Faleceu, em 2004, vítima de um infarto agudo do miocárdio.
Primeiros anos, família e educação Leonel de Moura Brizola nasceu em 22 de janeiro de 1922 em Cruzinha, uma localidade de Passo Fundo (atualmente Carazinho), no Noroeste do Rio Grande do Sul. Era filho de José Oliveira dos Santos Brizola, cujos pais mudaram-se de São Paulo para o Rio Grande do Sul, e de Onívia de Moura, filha dos primeiros povoadores do município gaúcho de Nonoai. Brizola era o caçula do casal, que também tiveram outros quatro filhos: Irani, Francisca, Paraguassú e Frutuoso. Seu pai, José Oliveira, era um pequeno fazendeiro que foi assassinado por soldados leais a Borges de Medeiros durante a Revolução de 1923. A morte de José fez com que Onívia enfrentasse dificuldades para criar seus filhos, agravadas quando perdeu suas terras em um litígio judicial. A família então foi morar em São Bento, uma região mais próspera de Carazinho, onde Onívia, que trabalhou na lavoura, criando vacas e costurando, conseguiu reconstruir sua vida. Onívia casou-se novamente, com o agricultor viúvo José “Janguinho” Gregório Estery, tendo com ele mais dois filhos: Sadi e Jesus. Brizola foi alfabetizado por sua mãe antes de ingressar no ensino primário. Estudou, por pouco tempo, como bolsista em uma escola de Não-Me-Toque. Quando tinha dez anos de idade, foi morar sozinho em um sótão de um hotel em Carazinho, onde lavava pratos para ganhar comida e carregava malas até uma estação férrea. Ajudado pela família de um pastor metodista, recebeu uma bolsa de estudos que lhe permitiu concluir o primário no Colégio da Igreja Metodista. Em 1936, aos doze anos de idade, Brizola mudou-se para Porto Alegre, onde trabalhou em diversas funções, como engraxate e ascensorista, e concluiu um curso de técnico rural no Ginásio Agrícola Senador Pinheiro Machado em 1939. Após receber o diploma de técnico rural, Brizola não foi logo trabalhar nesta área, tornando-se em vez disso graxeiro da Refinaria Brasileira de Óleos e Graxas, em Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre; anos depois, soube que a refinaria era propriedade de Ildo Meneghetti, um de seus maiores opositores políticos. Foi aprovado em um concurso do Ministério da Agricultura, indo trabalhar como técnico do ministério em Passo Fundo, ficando assim mais próximo de sua família. Brizola permaneceu apenas por meio ano em Passo Fundo, onde, apesar de receber um bom salário, contraiu dívidas com várias pessoas. Depois de resolver suas pendências financeiras, retornou para a capital, residindo em uma pensão e trabalhando como jardineiro do Departamento de Parques e Jardins da Prefeitura. Em 1942, Brizola concluiu o ensino fundamental como bolsista no Colégio Nossa Senhora do Rosário. Em seguida, licenciou-se de seu trabalho na prefeitura e alistou-se no 3.º Batalhão de Aviação do Exército (atualmente a Base Aérea de Canoas). Com o fim de seu serviço militar, voltou a trabalhar como jardineiro, concluindo o curso científico (equivalente ao ensino médio) no Colégio Júlio de Castilhos e um curso de piloto privado. No Júlio de Castilhos, foi um dos fundadores do Grêmio Estudantil, sendo seu vice-presidente. Em 1945, foi aprovado no vestibular da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, graduando-se como engenheiro civil em 1949. Em 1º de março de 1950, Brizola casou-se com Neusa Goulart, irmã do deputado estadual e futuro presidente da República João Goulart (Brizola e Goulart eram ambos deputados estaduais). O casamento foi realizado na Fazenda de Iguariaçá, em São Borja, tendo o ex-presidente da República Getúlio Vargas como um dos padrinhos. O casal havia se conhecido nas reuniões da Ala Moça do PTB. Tiveram três filhos juntos: Neusinha, José Vicente e João Otávio. Após a morte de Neusa em 1993, manteve uma relação com Marília Guilhermina Martins Pinheiro.
Início da carreira política Enquanto ainda estava na universidade, Brizola começou a militar no movimento político, filiando-se ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em 1945. No PTB, foi-lhe incumbido a tarefa de organizar a ala jovem do partido, conhecida como Ala Moça. Na eleição estadual de janeiro de 1947, com a ajuda de seu partido, de colegas da universidade e de integrantes da ala jovem trabalhista, foi eleito deputado estadual com 3.839 votos, a 28ª maior votação daquela eleição. Na época, Brizola morava em uma pensão localizada no centro de Porto Alegre, na qual dividia o quarto com Sereno Chaise, futuro deputado estadual e prefeito de Porto Alegre. Na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, defendeu pautas do movimento estudantil, como o aumento de vagas nas instituições de ensino, e participou da Assembleia Constituinte, iniciada em março de 1947, na qual apoiou uma emenda de Alberto Pasqualini que classificou o direito de propriedade como “inerente à natureza do homem, dependendo seus limites e seu uso de conveniência social”. Na eleição estadual de outubro de 1950, Brizola foi reeleito deputado estadual com 16.691 votos, tornando-se na nova legislatura o líder dos trabalhistas na Assembleia Legislativa. No ano seguinte, foi facilmente indicado para ser o candidato do PTB à Prefeitura de Porto Alegre, com Manoel Vargas sendo o candidato a vice-prefeito pelo partido. Seu principal concorrente foi Ildo Meneghetti, vereador e ex-prefeito nomeado da capital, popular, em parte, por ter presidido o Sport Club Internacional. Embora favorito, Brizola foi derrotado por Meneghetti, em uma votação de 41 939 a 40 877 votos; como na época as eleições eram separadas, Vargas conseguiu ser eleito vice-prefeito. Sua derrota foi creditada pela dissidência organizada por José Vecchio, um dos dirigentes do PTB gaúcho. Em 1952, Brizola aceitou o convite do governador Ernesto Dornelles e assumiu a Secretaria de Obras Públicas. Nesta função, desenvolveu o Primeiro Plano de Obras do estado, realizando obras de infraestrutura, majoritariamente nas áreas de saneamento básico e rodovias. Em 1954, deixou a secretaria para postular uma vaga na Câmara dos Deputados na eleição de outubro daquele ano. Brizola acabou sendo eleito deputado federal com um recorde nacional de 103 003 votos, mais do que o dobro da votação obtida pelo segundo colocado. Como deputado federal, foi um ferrenho opositor de Carlos Lacerda, da União Democrática Nacional. Quando Lacerda fez seu juramento de posse como deputado, Brizola pegou o microfone e retrucou-lhe: “Pela ordem, senhor presidente. Este é um juramento falso! Ele está jurando aqui dentro a democracia e está pregando o golpe lá fora”. A declaração provocou uma confusão, com reações contrárias e favoráveis; Lacerda apenas respondeu “O que é isso? O que é isso?”. Este episódio rendeu a Brizola, pela primeira vez, espaço nos grandes jornais do país. Brizola fundou e dirigiu, no decorrer do ano de 1955, o jornal em formato de tabloide Clarim, que chegou a atingir uma tiragem de 35 mil exemplares. Brizola usou a publicação para promover sua segunda candidatura à prefeitura de Porto Alegre, indicando e criticando os problemas da cidade. Com o slogan “Nenhuma Criança Sem Escola” e um caráter desenvolvimentista, Brizola acabou sendo eleito, com 65 077 votos (55,14%), contra 37 158 votos (31,49%) recebidos por Euclides Triches. Embora seu partido tenha conquistado a maior bancada na Câmara de Vereadores, não conseguiu uma maioria na casa, ficando com 8 das 21 vagas. Em janeiro de 1956, foi empossado prefeito de Porto Alegre. Entre suas realizações no cargo, destacam-se o aumento do número de vagas disponíveis na rede municipal de ensino, incluindo o ensino em dois turnos, as obras de saneamento básico e a urbanização de grande parte dos trechos próximos ao Rio Guaíba.
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