Relatório revela o desastre da privatização do saneamento na Inglaterra. Águas estão com níveis chocantes de contaminação. Fiscalização e multas já não intimidam as empresas — e o governo faz vista grossa. Cresce a pressão pública para puni-las
Foi divulgado hoje, 14 de julho, o relatório anual 2021 sobre a poluição por esgotos causadas pelas empresas privadas proprietárias dos serviços de água e esgoto da Inglaterra. Na ocasião, a Agência do Meio Ambiente (EA) informou que as empresas de água inglesas apresentaram níveis chocantes de poluição no ano passado.
Considerando que o desempenho das empresas no combate à poluição por esgotos caiu para o pior nível dos últimos anos, Emma Howard Boyd, diretora da Agência, está solicitando que os executivos-chefes e os membros de conselhos sejam presos e demitidos já que parecem não se intimidar com ações de fiscalização e com a aplicação de multas judiciais por violar as leis ambientais.
A forte reação da Agência do Meio Ambiente foi secundada pelo Departamento de Meio Ambiente (Defra), com status ministerial, por meio de um porta voz que afirmou: “Este relatório mostra que as empresas de água estão ignorando suas responsabilidades legais. Os dirigentes das companhias não podem continuar a ter grandes lucros enquanto poluem as nossas águas”.
A avaliação de desempenho ambiental utilizada no relatório anual utiliza de uma a quatro estrelas para informar o desempenho. Seis das nove empresas precisam melhorar muito o desempenho: a Southern Water e a South West Water receberam apenas uma estrela – desempenho ruim e outras quatro empresas: Anglian, Thames , Wessex e Yorkshire, receberam apenas duas.
Segundo o jornal The Guardian, “a crescente indignação pública com a escala de lançamentos de esgoto em rios e águas costeiras forçou esta agenda a se tornar parte do debate político dominante. Cidadãos cientistas e comunidades em todo o país estão fornecendo evidências da poluição dos cursos d’água pelas empresas.”
Ao lado de empresas ávidas por lucro, o desmonte do Estado
Em artigo no The Guardian, John Vidal, ex-editor de Meio Ambiente do jornal inglês, afirma que o combate à poluição não é o ponto forte de nenhum governo, mas agora a proteção da Inglaterra contra a destruição da natureza está sendo intencionalmente desmontada. O jornalista informa que no ano passado, a Agência do Meio Ambiente recebeu mais de 100.000 denúncias de poluição da água, do ar e da terra na Inglaterra, mas, segundo chocantes documentos vazados, a agência, responsável legal pela proteção do meio ambiente ordenou que sua equipe ignorasse todas as denúncias, exceto as mais óbvias e de maior impacto. A agência investigou apenas 8.000 dos 116.000 potenciais incidentes de poluição e apenas um punhado de empresas foi levado ao tribunal.
Vidal lembra que o governo inglês, mimetizando Donald Trump nos EUA, castrou todas as outras agências de proteção, incluindo a Natural England, a Forestry Commission, a Natural Resources Wales e a Scottish Environment Protection Agency e que o financiamento para a Food Standards Agency foi reduzido pela metade entre 2009 e 2019, e o do Health and Safety Executive, que supervisiona a segurança no local de trabalho, em 53%.
Não se precisa fazer qualquer esforço para traçar um paralelo com o desmonte em curso no Brasil, patrocinado pelo governo Bolsonaro, tendo como pano de fundo a política econômica neoliberal do governo conservador inglês e a conduzida por Paulo Guedes desde 2019.
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