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Aos 93 anos, artesã mantém mosaicos em calçada de Xangri-lá: “Mais disposição que eu”, diz filho

TIAGO BOFF

Passeio foi reformado para evitar que um vizinho, com dificuldade de locomoção, se machucasse em uma possível queda, afirma a artista


Anselmo Cunha / Agencia RBS

Beatriz Pettini passa os verões no Litoral Norte, mas não apenas descansando. Proprietária de uma casa de frente para o mar de Atlântida, em Xangri-lá, a idosa reserva boa parte do seu tempo à arte. E mais: investe em criatividade para transformar e manter o caminho à praia numa exposição de mosaicos coloridos, visível em toda extensão da calçada.

Os 93 anos de idade estão longe de serem um empecilho para manter o trabalho, iniciado quando tinha “apenas 80”, relembra.


— Gosto de trabalhar. Aprendi a fazer mosaico aos 80 anos, e não foi fácil. Não queriam me aceitar por ser muito idosa. Hoje, estou realizada, provei que nunca é tarde para começar.


As formas no piso são de animais marinhos, flores e outros “à escolha de quem vê”, abstratos. Estão no local há quase uma década, desde que a empática senhora decidiu ajudar um vizinho com dificuldade de locomoção.


— Eu tinha medo que ele caísse e se machucasse. Mandei fazer a calçada lisa e junto à minha filha, coloquei os mosaicos — complementa.


O imóvel fica na esquina da Rua Juriti com a Avenida Beira-Mar. De tijolos à vista e telhado de barro, preserva no seu interior quadros com homenagens das forças policiais que patrulham a região: “para vó Beatriz, com carinho da base móvel comunitária”, estampa uma regata doada pela Brigada Militar.


— Até mesmo guarda-vidas que não trabalham mais aqui, passam, buzinam e me chamam. Acho que sou muito bem quista — diz, sorrindo.


Em outra parede, emoldurou com vidro a primeira vez que teve sua inspiradora história contada nas páginas de Zero Hora. A reportagem “A Senhora da Calçada” é de 2017, escrita por Bruna Scirea, com imagens de Lauro Alves.

A inspiração chega a um dos filhos, Luiz Pettini, 63 anos. Ele afirma que ver a disposição da mãe lhe da “vergonha de ficar reclamando da vida”. Bem-humorado, admite não ser tão ativo, mesmo três décadas mais jovem.


— A mãe é um exemplo, minha grande companheira. E sem dúvida tem mais disposição que eu — compara.


Na pandemia, o atelier que ocupa uma das peças da ampla residência se tornou uma espécie de consultório terapêutico para o isolamento. Sentindo-se útil, como define o trabalho em uma idade que poderia apenas repousar, coleciona elogios pelo bairro.


— É muito diferente, chama atenção de todo mundo — responde o calçadista aposentado Gilberto Martini de Oliveira, 61 anos.



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